Fim das portagens nas ex-SCUT em 2025

AUTOR: Beatriz Martins de Castro | PUBLICADO EM: 17/12/2024 | Última atualização: 17/12/2024

O Orçamento de Estado de 2025 trouxe uma novidade significativa para os portugueses que dependem das autoestradas, especialmente nas regiões do interior e no Algarve. O documento aprovado pelo Parlamento prevê a abolição das portagens em várias autoestradas, conhecidas como ex-SCUT (Sem Custo para o Utilizador), com efeito a partir de 1 de janeiro de 2025. 

A Origem das SCUTs em Portugal

As SCUTs foram introduzidas em Portugal em 1997 como uma forma de apoiar o desenvolvimento das áreas mais isoladas do país, oferecendo autoestradas sem custos para o utilizador. Estas estradas, como o nome sugere, eram inicialmente gratuitas, com o custo de construção e manutenção totalmente suportado pelo Estado. O objetivo era incentivar o crescimento e a acessibilidade em regiões menos favorecidas, facilitando o transporte e a mobilidade para os residentes e visitantes.

No entanto, em 2011, devido a problemas económicos que resultaram da crise financeira de 2008, o governo decidiu introduzir portagens nas SCUTs. Esta decisão foi justificada como uma medida necessária para aumentar a receita estatal. Assim, os utilizadores passaram a pagar pelo uso de autoestradas que, até então, eram gratuitas. Esta alteração gerou controvérsia, pois muitos argumentaram que a cobrança de portagens nas SCUTs contrariava o propósito inicial de promover o acesso sem custos às regiões mais isoladas. 

Um homem dirigindo um carro, visto de trás, com uma mulher passageira ao lado numa estrada cercada por árvores

Autoestradas afetadas pelo fim das ex-SCUT 

Com o novo decreto promulgado pelo Presidente da República, diversas autoestradas serão isentas de portagens a partir de 2025. Entre elas estão as seguintes:

  • A4 – Túnel do Marão e troço Transmontana
  • A13 e A13-1 – Pinhal Interior
  • A22 – Algarve
  • A23 – Beira Interior
  • A24 – Interior Norte
  • A25 – Beiras Litoral e Alta
  • A28 – Troços de Minho entre Esposende e Antas, e entre Neiva e Darque

Estas autoestradas cobrem várias regiões, e a eliminação das portagens irá beneficiar principalmente os residentes das áreas do interior e do Algarve, que dependem destas vias para deslocações diárias e de longo curso. 

Detalhes do novo decreto de abolição das portagens

De acordo com a nota publicada no site da Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa indica que, a par de outros seis decretos do Parlamento, decidiu promulgar o "decreto que elimina as taxas de portagem nos lanços e sublanços das auto-estradas do interior e em vias onde não existam alternativas que permitam um uso com qualidade e segurança, revogando o Decreto-Lei n.º 97/2023, de 17 de Outubro".

Esta decisão foi aprovada para garantir que os residentes dessas regiões tenham acesso a deslocação segura e de qualidade. A medida pretende também revitalizar o interior do país, facilitando o acesso e incentivando a mobilidade para impulsionar a economia local.

Impacto económico do fim das portagens em 2025

O relatório do Orçamento do Estado para 2025 estima que a abolição das portagens nas ex-SCUTs irá resultar numa perda de cerca de 180 milhões de euros em receitas anuais para o Estado. Esta quantia representa o valor que o governo arrecadava anualmente com a cobrança de portagens nas autoestradas em questão. No entanto, também prevê uma redução dos custos associados ao serviço de cobrança de portagens, embora o impacto exato desta redução não tenha sido quantificado no relatório.

A perda de receita levanta questões sobre a sustentabilidade financeira desta medida a longo prazo. O governo deverá encontrar formas de compensar a diminuição das receitas, sendo que uma das soluções pode passar por ajustes orçamentais ou por uma redistribuição dos recursos alocados a diferentes áreas de despesa pública. 

Imagem de uma praça de pedágio com várias cabines numeradas, onde veículos, incluindo carros e um caminhão, aguardam para pagar ou passar

Controvérsia política e debate parlamentar

A decisão de abolir as portagens nas ex-SCUTs não foi unânime e tem gerado um acalorado debate no Parlamento. O projeto de lei foi originalmente proposto pelo PS, mas a sua aprovação contou com o apoio de partidos como o BE, o PCP, o PAN e o Chega. Em contraste, o PSD e o CDS-PP votaram contra a medida, enquanto o partido Iniciativa Liberal optou por abster-se.

O tema das ex-SCUTs sempre foi controverso em Portugal, principalmente devido ao impacto económico das portagens sobre os residentes das regiões afetadas. Aqueles que se opõem à abolição das portagens argumentam que o Estado não deveria arcar com os custos de manutenção dessas vias, especialmente em tempos de desafios orçamentais. Por outro lado, os defensores da medida apontam que a mobilidade é um direito essencial, especialmente para os residentes das áreas mais isoladas e economicamente desfavorecidas.

Perspetivas futuras e impacto social

A abolição das portagens nas ex-SCUTs representa uma mudança significativa na política de transportes em Portugal. Esta medida poderá ter um impacto positivo na qualidade de vida dos residentes do interior e do Algarve, pois facilita o acesso e reduz os custos associados às deslocações diárias. Além disso, ao incentivar o uso das autoestradas, o governo espera descongestionar as estradas secundárias e melhorar a segurança rodoviária, reduzindo o risco de acidentes em vias menos adequadas para tráfego intenso.

Fotografia de uma rua movimentada ao entardecer, com vários carros alinhados e faróis acesos

Contudo, a medida levanta também desafios para o governo, que precisará de compensar a perda de receitas e garantir a manutenção adequada das autoestradas isentas de portagens. É possível que futuras discussões sobre financiamento e investimento em infraestruturas venham a ser necessárias, especialmente se o custo de manutenção das ex-SCUTs representar um encargo financeiro significativo para o Estado.

A abolição das portagens nas ex-SCUTs a partir de 2025 é uma medida histórica que visa facilitar a mobilidade e promover a coesão territorial em Portugal. Ao eliminar os custos de circulação em várias autoestradas, o governo espera revitalizar o interior do país e garantir que todos os cidadãos tenham acesso a transporte seguro e acessível. No entanto, o impacto financeiro desta medida e as reações políticas divididas indicam que o fim das portagens será um tema de discussão nos próximos anos.

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Beatriz Martins de Castro

Licenciada em Comunicação Social pela Universidade Católica Portuguesa de Lisboa em 2015, mudou-se para Madrid para realizar o Mestrado em Relações Pú... Mais sobre Beatriz Martins de Castro

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